Infecções urinárias após a menopausa: por que se tornam tão frequentes e como prevenir com segurança
- Dra Júlia Cargnin
- há 11 minutos
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Muitas mulheres começam a ter infecções urinárias (ITU) repetidas justamente após a menopausa — mesmo aquelas que nunca tiveram episódios antes. A sensação é de estranhamento: dor, ardência, urgência para urinar e, principalmente, a dúvida sobre o motivo de tantas recorrências. Essa situação tem explicação e, mais importante, tem prevenção eficaz.

Por que as infecções urinárias aumentam depois da menopausa
Após a menopausa, ocorre a queda natural do estrogênio, hormônio que mantém a vagina e a uretra hidratadas, protegidas e com microbioma saudável. Sem esse suporte, o ambiente genital passa por mudanças que favorecem infecções.
De forma resumida e direta, o que acontece é:
Redução da hidratação e da elasticidade Com menos estrogênio, a mucosa da vagina e uretra se tornam mais fina e mais sensível.
Diminuição das bactérias protetoras Os lactobacilos, que formam a defesa natural contra microrganismos causadores de ITU, diminuem.
Alteração do pH O pH se torna menos ácido, perdendo sua função protetora.
Menor barreira de defesa na uretra O canal da urina fica mais vulnerável à entrada de bactérias.
Esses fatores, somados, explicam por que tantas mulheres começam a ter infecções urinárias repetidas justamente nessa fase da vida.
Quando uma infecção urinária se torna recorrente
Consideramos infecção urinária recorrente quando a mulher apresenta:
três episódios em um ano, ou
dois episódios em seis meses.
Nesses casos, uma avaliação detalhada do trato urinário é indicada, com exames de urina, cultura, ultrassonografia e, em determinadas situações, cistoscopia.
Estrogênio vaginal: a estratégia mais eficaz para prevenir ITU após a menopausa
Entre as opções disponíveis, o estrogênio vaginal é a intervenção com maior eficácia comprovada na prevenção de infecções urinárias pós-menopausa. Ele pode ser utilizado como creme, comprimido vaginal ou sistema de liberação contínua.
Por que funciona tão bem?
restaura a hidratação da vagina e da uretra
melhora o pH
favorece o retorno dos lactobacilos
fortalece a barreira local contra bactérias
Os resultados começam a aparecer gradualmente, com melhora significativa entre 6 e 12 semanas. A redução no risco de novas infecções pode ultrapassar 75% em alguns grupos.
É uma terapia local, com absorção mínima e perfil de segurança amplo, indicada para a maioria das mulheres.
E quanto a outras opções? Laser íntimo, fitoterápicos e imunoterapia
Além das abordagens tradicionais, algumas estratégias complementares podem ser consideradas em casos selecionados, sempre como parte de um plano individualizado:
Laser íntimo: Pode melhorar a hidratação, a espessura e a vascularização da mucosa vaginal, contribuindo para um ambiente genital mais saudável. Não substitui o estrogênio vaginal, mas pode ser útil para mulheres que apresentam sintomas vaginais associados ou que não podem usar o estrogênio.
Fitoterápicos: Substâncias como cranberry, D-manose ou extratos vegetais podem ajudar na redução dos episódios em mulheres específicas.
Imunoterapia: Em situações de infecções recorrentes com flora bacteriana conhecida, existem terapias que estimulam a resposta imunológica local. São alternativas que podem reduzir episódios, mas exigem acompanhamento mais próximo e indicação criteriosa.
Antibióticos preventivos: quando são necessários
O uso de antibiótico em baixa dose por alguns meses, ou uma única dose após a relação sexual, pode ser indicado em casos específicos. São estratégias eficazes, mas não constituem a primeira escolha, pois exigem monitoramento para evitar resistência bacteriana.
Conclusão
Infecções urinárias repetidas após a menopausa têm causa definida e tratável. A queda do estrogênio provoca mudanças estruturais e microbiológicas que tornam o trato urinário mais vulnerável, mas existem estratégias seguras e eficazes para prevenir novos episódios.
Com avaliação adequada e o tratamento certo é possível reduzir significativamente as infecções, aliviar sintomas e recuperar qualidade de vida.
Referências consultadas – American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) https://www.acog.org/womens-health/experts-and-stories/the-latest/utis-after-menopause-why-theyre-common-and-what-to-do-about-them
– AUA/SUFU/AUGS Guideline on Genitourinary Syndrome of Menopause, 2025 (PMID: 40298120)
Dra. Júlia Cargnin | Ginecologista
CRM-GO 23.738 | RQE 12.536




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